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Com o que preciso me preocupar antes de abrir minha empresa?

Atualizado: 18 de jan. de 2022

Ter sucesso ao empreender exige muito mais do que uma boa ideia ou ter em mãos uma ótima ferramenta. É preciso ter perfil para isso e tomar uma série de boas decisões antes mesmo de começar seu negócio.



Empreender não é fácil e não é para todo mundo (repetimos bastante essa frase em nosso escritório quando somos procurados por clientes interessados em abrir um negócio). Em nosso país, então, a coisa é muito mais complicada: 1) vivemos em um verdadeiro manicômio tributário, 2) nosso legislativo tem uma capacidade surreal de criação de leis e 3) nosso judiciário não passa muita segurança jurídica.


Entretanto, esses problemas não são nada se comparados ao fato de que milhares de pessoas abrem negócios anualmente sem qualquer perfil para isso, escolhendo sócios simplesmente porque são seus amigos e sem qualquer planejamento. Portanto se você pretende abrir um negócio ou já abriu e não entende por que ele não dá certo, atente-se as dicas a seguir.


Descubra se você tem perfil para isso. Você já parou para pensar se de fato quer empreender ou se está apenas incomodado com seu atual chefe? Entender se você realmente tem um perfil empreendedor é fundamental. Se você gosta de horários rígidos, tem dificuldade para se relacionar com seus clientes, tem dificuldade de trabalhar em equipe, pensa que liderar pessoas é um pesadelo, não gosta de se envolver com questões contratuais, tributárias etc. ou tem dificuldade de tomar decisões, talvez você tenha que repensar se realmente empreender é para você. Evidentemente que uma ou outra habilidade você pode não possuir, mas se você se reconheceu na maioria delas, repense antes de colocar suas economias em seu novo negócio.



Escolha bem seus sócios. Você já deve ter escutado algumas vezes que você e seus sócios devem se completar. De fato, esse é um grande diferencial na montagem da estrutura societária de qualquer negócio, uma vez que as habilidades diversas podem trazer mais opções de resolução de problemas. Entretanto, isso nem sempre é possível. O que de fato não pode faltar na relação com seu sócio é confiança e alinhamento de objetivos. Uma coisa é você ter um perfil mais arrojado e seu sócio um mais moderado. Outra coisa é você querer construir um grande negócio e seu sócio apenas garantir seu ganha pão. Alinhamento de expectativas é fundamental.


Tenha um bom plano de negócio. Não adianta você apenas ter o sonho de abrir uma cafeteria ou uma startup no ramo da saúde se não entender muito bem aonde você quer chegar e como. No caso da primeira, provavelmente fechará nos primeiros meses. Na segunda, você não vai conseguir captar um centavo sequer se não tiver um plano muito bem estruturado. Não é só na base da confiança que você vai conseguir decolar seu negócio. Trace metas, estratégias, objetivos, preveja riscos, identifique seu cliente, avalie as peculiaridades do setor onde estará inserido, custos tributários, conheça seus concorrentes, identifique seus pontos fracos, enfim, capriche na elaboração do seu plano de negócio. Muitas vezes a elaboração deste documento é suficiente para livrá-lo de uma grande enrascada.


Estruture bem o contato social e o acordo de sócios. Contratos são feitos porque as coisas podem dar errado e quando isso acontecer ter em mãos regras claras e bem definidas pode ajudar bastante. O contrato social é o documento que oficializa seu negócio, nele consta o quadro societário, percentuais, objeto, critério de saída de sócios etc. Sem esse documento sua empresa sequer será inscrita no CNPJ. O acordo de sócios, por sua vez, é tido como um pacto parassocial. Ele é firmado para estabelecer algumas regras de funcionamento e organização da empresa que não constam no contrato social. Ambos os documentos são essenciais para evitar discussões e problemas desnecessários ou ao menos prever as regras de como eles serão resolvidos, portanto, dedique-se bastante na hora de sua elaboração e não se contente com modelos genéricos.


Pense bem antes de definir a melhor forma de contratação de seus parceiros e colaboradores. Se você quer que seu negócio seja duradouro, esse ponto é essencial. Muitas empresas, na intenção de economizar com custos trabalhistas ou por deixarem de consultar especialistas, acabam por criar enormes passivos judiciais, tanto na esfera trabalhista quanto na cível. Como já escrevemos recentemente, é importante entender bem o que de fato caracteriza uma relação de emprego para evitar uma condenação na Justiça do Trabalho. Em relação aos seus prestadores de serviços, atente para não ficar refém de um só parceiro. Na hora de fechar o negócio e assinar o contrato, tenha bem definido o preço, reajuste, forma de rescisão etc.


Valorize sua marca, ou seja, registre-a. Você já deve ter ouvido falar que a marca de seu negócio é seu maior patrimônio, não é mesmo? E isso é verdade! Registrar sua marca não é um custo é um investimento. O registro de marca impede que empresas usem sinais idênticos aos seus, agrega valor ao negócio e permite que você a licencie. E o melhor: é rápido, simples e barato. Acredite.


Cuide dos dados pessoais de seus clientes. Se você é um empreendedor bem-informado, certamente já ouviu falar de Lei Geral de Proteção de Dados. Essa lei entrou em vigor em 2020 e tem como principal objetivo proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural. Se o negócio, portanto, acessa, armazena, compartilha, coleta ou classifica dados pessoais você deve adequar sua operação a essa norma. Geralmente a adequação das empresas a esta lei acaba por trazer, como consequência, uma série de melhorias operacionais (estudos feitos pela Deloitte mostraram que as empresas recuperam cerca de 140% do valor investido em proteção de dados). Se isso não for motivo suficiente, a lei estabelece multas bem altas para quem não se adequar.


Repito: empreender não é fácil. Portanto, antes de começar seu negócio, reflita se você tem perfil para isso. Se a resposta for positiva, lembre-se de escolher bem seus sócios, fazer um bom plano de negócios (que pode definir se de fato ele sairá do papel) e definir regras claras para o desenvolvimento de sua empresa. Uma vez que o negócio esteja em pleno funcionamento, lembre-se de registra sua marca, contratar parceiros e clientes da maneira correta e cuidar bem de seus clientes e seus dados pessoais.


Felipe Mendonça

Advogado (OAB/RS 69.083 e OAB/PR 84.256). Mestre em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

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