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Mas, afinal, o que é Bitcoin?

Atualizado: 18 de jan. de 2022



Primeiramente, antes de tentarmos entender o que é bitcoin, como funciona e onde pode chegar, é preciso entender o dinheiro.


O dinheiro, por definição, é um instrumento de pagamento usado em trocas, na forma de notas e moedas, por determinada sociedade, como contraprestação a utilização de serviços e aquisição de bens.


Antes de sua “invenção”, as transações comerciais funcionavam à base da troca. Imagine o seguinte: eu, plantador de macieiras, quero comprar tecidos. Como o dinheiro ainda não existe, preciso encontrar um vendedor interessado em maçãs. Caso ele não tivesse interesse em minhas frutas, eu teria que encontrar alguém ao mesmo tempo interessado nelas e detentor de algum bem ou serviço que despertasse o interesse do comerciante de tramas.


O trabalho era imenso!


Na relação um para um, essa lógica até parece simples. Porém, ao adicionarmos intermediários na transação, o cenário é desanimador. Outra questão: quantas maçãs valem meio metro de tecido de lã?


Assim, para que a lógica desse certo, era necessário utilizar um produto mais universal, de interesse comum, mas que nem todos tivessem acesso, para que ao mesmo tempo fosse valioso e escasso. Por que eu aceitaria um produto como pagamento se eu posso obtê-lo facilmente e ninguém teria interesse nele? Dessa forma, durante muito tempo, várias sociedades adotaram produtos com essas características para realizar suas transações. Temperos, sal e tabaco foram muito empregados e durante muito tempo, mas um, em especial, funcionou e, de certa forma, funciona até hoje: o ouro.


Alguns estudos sugerem que todo o ouro minerado na história da humanidade preencheria um cubo com faces de 441 m2, algo em torno de 9.200 m3. Outros pesquisadores afirmam que essa conclusão é frágil e infundada, uma vez que há muitas reservas desconhecidas no planeta e pouca referência de algumas sociedades. Quem tem razão? Não faço a mínima ideia, mas até que provem o contrário, não há tecnologia para produzi-lo, mas tão somente para extraí-lo. Ou seja: é escasso. Quanto à procura, pegue uma barra de ouro na mão e me convença de que ela não o seduz.


Com o passar do tempo, talvez a procura diminua e as pessoas passem a dar valor a outros materiais. Caso Elon Musk continue motivado (o que é bem provável, já que a meta atual é Marte), o novo ouro será (como já é, a bem da verdade) a matéria prima para fabricação de baterias para carros elétricos.


Todavia, o ouro tem um problema grave: com quanto devo sair de casa para cortar o cabelo, pegar um táxi e jantar com minha esposa? Como receber troco nessas operações? É aí que o dinheiro entra: ele é fácil de transportar e armazenar, a não ser que você more no Rio de Janeiro, é claro (como é difícil essa tarefa por lá!)!


Atualmente, cada governo assume a tarefa de deixar o dinheiro raro, ou seja, limita a sua impressão e disponibilidade à medida da necessidade do mercado. Caso imprima demais, temos hiperinflação, ao passo que em cenários de crise, muitas vezes, há injeção de dinheiro na economia, por intermédio de “empréstimos” a juros baixos aos bancos.


Chega de falar de ouro, dinheiro e maçãs! Falemos de bitcoin!


De certa forma ele é um pouco de cada uma dessas coisas.


Satoshi Nakamoto, suposto idealizador do bitcoin, criou um número máximo da criptomoeda - 21 milhões de bitcoins - de modo a “substituir” o ouro e a manter imune a inflação, uma vez que não há como produzi-lo, ou imprimi-lo, como é feito com o dinheiro em papel.


O bitcoin é chamado de criptomoeda porque cada um é um código criptografado, ou seja, possui uma numeração única e é imune a cópias. O dinheiro já não executa essa função? Sim, no entanto, com bitcoin, pelo menos em sua concepção, não precisamos de bancos e tão pouco de intervenção estatal.


Além disso, sem intervenções, as coisas ficam mais baratas e as operações concretizam-se de maneira mais rápida. Voltemos às maçãs! Caso eu tenha uma nota de R$ 2,00 e quiser comprar uma maçã, essa operação será extremamente rápida e barata. Em cerca de 10 segundos, entrego a nota e recebo a fruta. O preço não é encarecido, pois não contrato ninguém para intermediar o negócio.


Agora imagine a seguinte situação: e se eu pagasse a maçã por intermédio de um boleto? A fruta custaria o dobro e o vendedor demoraria muito mais para receber. Custaria o dobro porque além da taxa de emissão do boleto, eu precisaria ter conta em banco (pagando taxa de administração, evidentemente). Alguém ainda tem dúvida de que banco não faz nada de graça? Além disso, o vendedor só receberia o pagamento 24 horas depois, pois necessitaria esperar o período de compensação do boleto!


Com a bitcoin, a transação é automática. Ela é, como antes dito, um “arquivo” digital on line criado por um processo chamado de mining (mineração). Em suma, todas as transações ficam registradas na blockchain (literalmente cadeia de blocos) e referidos registros hospedam-se em vários computadores, tornando impossível a perda da informação. Esses “livros contábeis” registram todos os envios e recebimentos de valores, ou seja, trazem a relação de todas as operações realizadas por intermédio de bitcoins.


Os mineradores executam o trabalho de unir as transações, as quais são separadas em blocos, deixando claro o nome dado a esta transação: cadeias de blocos. Cabe ao minerador calcular o hash (elo entro as cadeias) de forma correta, para formar a ligação e manter o sistema saudável. Trocando em miúdos, isso garante que cada bitcoin não seja usada mais de uma vez, que ela chegue ao destino correto e que a cadeia inteira não seja comprometida.


Por que existem mineradores? Porque recebem bitcoins para realizar o trabalho!


Em que pese ter sido criada para “sustentar” a bitcoin, a blockchain tem muitas outras funções. Além de dar lastro a outras criptomoedas (sim, a bitcoin é apenas 1 entre as mais de 1.000 hoje existentes), a blockchain pode ser usada de diversas formas (transferências de documentos, doações, processos administrativos, emissão de documentos como CNH, passaporte, etc.).


Justamente por isso, muitos acreditam que a blockchain veio para ficar e a bitcoin não, por ser uma nítida bolha financeira. Se é bolha ou não, talvez seja muito cedo para concluir, mas nada valorizou tanto em tão pouco tempo.


Acreditem ou não, a primeira transação por intermédio de bitcoin foi para comprar duas pizzas, que custaram, em 2010, 10 mil bitcoins, cifra sem qualquer valor efetivo na época. Hoje, 10 mil bitcoins valem algo em torno de R$ 300.000.000,00. Sim, trezentos milhões de reais.


É bolha ou não é? Esse é um debate para outro texto.


Felipe Mendonça

Advogado (OAB/RS 69.083 e OAB/PR 84.256). Mestre em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

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